Pai e filho, juntos na vida e também nos negócios

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Na infância todos os filhos enxergam os pais como heróis e no meu caso não foi diferente! Eu achava o meu pai o máximo e admirava seu jeito de ser, seu gosto pela leitura, sua disciplina para praticar muitos esportes ao mesmo tempo e sua incrível criatividade para ter muitas ideias e executá-las com muita rapidez. Desde pequeno, acho que eu já sonhava em um dia ser como ele, tocar os negócios da família e manter vivo o legado empreendedor dos Ramenzoni.

Eu não acredito que o meu pai já sabia, desde os meus tempos de criança, que eu seria o seu sucessor nos negócios da família. Apesar da minha curiosidade latente sobre tudo e todos, eu sinto que fui conquistando sua confiança aos pouquinhos… ele acompanhava como eu era aplicado nos esportes que escolhia como bola da vez, especialmente vôlei e vela. (E vôlei era porque eu gostava muito mesmo, porque não tinha altura compatível para esse tipo de esporte, mas tinha coragem para defender as cortadas e levantar a bola para os atacantes, que eram os jogadores mais altos.)

Mas eu acho que meu pai me escolheu para ser o seu sucessor na minha adolescência, lá pelos idos de 1957, quando eu planejava estudar Medicina e ele me aconselhou a cursar Engenharia Industrial, Administração ou Química, para poder dar sequência à empresa da família. E eu entendi logo que seria bacana ouvir o meu pai e que sua argumentação fazia sentido, se alinhava com a minha forma de interpretar a vida e iria sim, nortear minha escolha profissional. Meu pai era um homem de ideias largas, mas de muito bom senso e visão de futuro.

Foi neste cenário que resolvi estudar Engenharia Industrial nos Estados Unidos e assim, me preparar melhor para ser um profissional bem qualificado na área escolhida, mas que também fosse capaz de aprimorar a pegada empreendedora, que os currículos americanos já percebiam como elemento primordial para uma carreira profissional bem-sucedida, independente da área escolhida.

Durante todo o período que morei fora, semanalmente eu escrevia uma carta para o meu pai contando sobre o que eu estava estudando, o que estava descobrindo de interessante sobre o mercado chapeleiro mundial e ele nunca deixou uma única carta sem resposta!

Nas férias, eu retornava à São Paulo e ficava a maior parte do tempo viajando na companhia dos meus irmãos (fazíamos pescarias incríveis no Pantanal e nos divertíamos muito juntos!) e quando faltava menos de uma semana para eu retornar para os Estados Unidos, aí eu ficava com os meus pais, pois sempre curti ficar na companhia deles, e demonstrar o quanto valorizava a atenção e carinho que tinham comigo.

Quando concluí os estudos, meu pai me convidou para iniciar a minha carreira profissional na Ramenzoni Chapéus porque sabia que eu tinha interesse de aplicar os conhecimentos adquiridos fora do país e me integrar mais na empresa criada pelo meu avô Lamberto e meu tio avô Dante Ramenzoni. E desde que aceitei a oferta de emprego do meu pai, qualquer assunto que se referisse à fábrica de chapéus Ramenzoni, eu sempre estive presente.

E é claro que o meu pai observava, analisava a minha postura e valorizava a minha dedicação. Como ele era um homem que pensava grande, com toda essa nossa aproximação, ele tomou gosto em contar suas melhores sacadas para a pessoa que mais se interessava em ouvi-las, esse mesmo que está nesse momento contando essa história para vocês.

E foi assim que meu pai foi me olhando com olhos de confiança! Foi assim que fui melhorando cada vez mais a minha performance a cada nova função que ia desempenhando na empresa e foi assim que, em 1972 eu me tornei presidente da Papirus, no momento em que inaugurávamos a nova planta industrial na cidade de Limeira.

E meu pai seguiu a vida tendo muitas novas ideias e fazendo questão de ir até o escritório, contar todos os detalhes e ver se me convencia a transformá-las em realidade.

Ele chegava de mansinho perguntava se eu estava ocupado, ao que de pronto eu respondia que para ele sempre tinha tempo. E então ele dizia:

– Dante, vamos fazer uma fazenda de café?

– Dante, vamos investir numa usina de álcool?

– Dante, precisamos criar novos tipos de papel, mas você precisa antes pesquisar se essa ideia vai ter aceitabilidade junto aos nossos principais clientes…

Eu contemporizava, mostrava que muitas dessas ideias não eram muito viáveis, que outras delas poderiam comprometer o patrimônio familiar e nós nos entendíamos, numa boa.

Fico imaginando meu pai nos dias atuais, com o acesso a todo tipo de informação tão simples e facilitado, meu Deus, ele seria uma indústria de ideias. Ia querer lançar uma nova startup a cada mês.

Homem letrado, de gosto refinado, seu Ziro Ramenzoni fazia questão de ler os jornais locais, mas também os italianos e franceses, e toneladas de livros! Foi um grande entusiasta da vida, do empreendedorismo, das ideias inovadoras e eu tenho o maior orgulho de ter executado muitas dessas ideias. De ter aprendido com ele a ser um homem que valoriza pessoas e ideias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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